O Socioculturalista #16 – 24 de Janeiro de 2009.

FANTASIA E REALIDADE NO MICRONACIONALISMO (I) – CARLOS GÓES

O cerne do diálogo realismo-virtualismo é a questão da fantasia e da realidade na prática micronacional. Muito se disse sobre o tema, embora não haja qualquer sistematização do pensamento. Ademais, sempre restaram lacunas para contestação alheia, que devem ser preenchidas com o evoluir do debate. 

 

Este artigo tem por objetivo a organização do contencioso relativo à realidade no micronacionalismo e o preenchimento das supracitadas lacunas. Nesse sentido, pretende-se demonstrar o relacionamento fantasia-realidade nos tipos ideais paradigmáticos realista e virtualista, bem como na classificação intermediária entre os dois paradigmas, i.e., as micronações modelistas.

 

Qualquer que seja a cosmovisão que conduza dada nação, os elementos reais e fantasiosos convivem. Mesmo nos tipos ideais construídos com base nos dois extremos paradigmáticos do micronacionalismo – realismo e virtualismo -, sempre estarão presentes os dos referidos elementos como composição do cenário micronacional.

 

A diferença fundamental reside na disposição dos dois elementos. E, ademais, de como os indivíduos – que são os agentes micronacionais – lidam com os mesmo. Por isso, os paradigmas interpretativos da realidade social micronacional se constituem em cosmovisões – ou seja, em um conjunto de idéias e conceitos que moldam a leitura da realidade: a Weltanschauung dos germânicos.

 

Tomando, como peça de análise inicial, o tipo ideal realista, observa-se que não há, como usualmente se argumenta, uma ausência de fantasia no realismo. Tal ausência de fantasia seria de fato, como alguns argumentam, a limitação das capacidades criativa e empreendedora do indivíduo.

 

Em verdade, no realismo, não há a ausência de fantasia, mas sim uma distinção clara entre os elementos reais e os elementos fantasiosos. Muitas peças de ficção micronacional partiram de realistas. Bruno Cava, um dos teóricos basilares do pasargadismo, escreveu a famosa “A Águia e a Mosca“. McMillan Hunt, que prega arduamente a inexistência de separação entre micronacionalismo e o restante da vida, é autor de “Pierre-Jesuiné, o herói sofista“.

 

Naturalmente, apesar da distinção clara, há uma interação entre a fantasia e a realidade. Por exemplo, a realidade factual do totalitarismo stalinista levou George Orwell a escrever “1984” e “A Revolução dos Bichos”. E a película “Matrix” deixou referências culturais utilizadas fora do contexto ficcional, como as famosas pílulas azul e vermelha. De modo similar, “A Águia e a Mosca” era uma metáfora para a relação entre Reunião e suas inimigas. Apesar das interações, o autor nunca reclamou existir factualmente uma mosca e uma águia falantes, de modo que a história pertencia claramente ao mundo da fantasia. 

 

Nesse sentido, o tipo ideal realista pode ser caracterizado pela separação entre realidade e fantasia existindo uma interação constante entre as duas esferas. Tal disposição se encontra representada na Figura 1.

 

fantasia

 

Em oposição, o tipo ideal virtualista significa a justaposição de realidade e fantasia. Deste modo, a fantasia é travestida de realidade. Enquanto no tipo ideal realista percebe-se claramente o que é fantasia e o que é realidade, no tipo ideal virtualista a própria realidade é fantasiosa.

 

Neste caso, o micronacionalismo é visto como um mundo hermeticamente fechado, mero simulacro. Os indivíduos são personagens distintos de seu controlador. O cenário é também fantasioso. Ocupam-se territórios que de fato não são ocupados. Sagas fantásticas são descritas como verdadeiras. Os acontecimentos narrados em jornais são frutos de elocubrações. 

 

Em uma cosmovisão virtualista, Guerras podem ser levadas a cabo somente em fantasia. A República da Molossia, por exemplo, reclama estar, ainda hoje, em guerra contra a Alemanha Oriental. Assim, a ‘realidade’ da micronação, isto é, sua atividade diuturna, é a própria fantasia. Tal situação é representada pela pela Figura 2.

fantasia1

 

 

Por fim, observa-se uma situação intermediária, que não constitui propriamente uma cosmovisão ou tipo ideal: o modelismo. Entretanto, é hegemônico no micronacionalismo em língua portuguesa. Sem maiores explicações, observa-se um cenário intermediário entre os tipos ideais realista e virtualista. Assim, não existiria uma justaposição entre realidade e fantasia, mas uma interseção entre as duas esferas. Tal situação é exposta na Figura 3.

 

fantasia3


O Socioculturalista #10, 20 de agosto de 2007.
DEFININDO A IDÉIA DE NAÇÃO – Peter Ravn Rasmussen (tradução: Carlos Góes).

Os seres humanos são animais tribais, com a tendência de se organizar em pequenos grupos em torno de machos e fêmeas dominantes – como um grupo de macacos em árvores. O elemento fundamental da organização humana é um grupo tribal e local, que, em sociedades mais avançadas, formam a base de uma estrutura mais elaborada de sociedade civilizada.

A idéia de nação (da palavra latina natio, que deriva de natus “nascido”) implica em um relacionamento comum de sangue. De fato, este relacionamento raramente é factual – mais comumente, deriva de um suposto ancestral comum. Este ancestral comum pode ser uma figura histórica, ou, na maioria das vezes, um ser mítico.

Colocando o tribalismo à parte, os laços que unem um grupo de pessoas em uma nação são muito mais complexos que simples relacionamentos sangüíneos (reais ou imaginários). Este relacionamento somente pode subsistir nos mais baixos níveis de organização social (e mesmo assim, hierarquias locais organizadas por sangue se tornaram raras no mundo moderno). À medida que a sociedade civilizada cresce, cada vez mais complexa, a nacionalidade se cria em função de uma série de fatores – sendo a ancestralidade comum somente um deles.

A linguagem é um fator, sem dúvida alguma – embora existam nações que existam com múltiplas línguas (obviamente, para cada história de sucesso, há um contra-exemplo de desintegração nacional por elementos lingüísticos). Entretanto, as nações com uma única linguagem dominante usualmente utilizam-se desta língua definir que eles são. Este é particularmente o caso daquelas situações em que a língua é extremamente difícil para que estrangeiros aprendam (e.g. dinamarquês, finlandês ou japonês).

A cultura e os artefatos da cultura, são importantes para a definição da nação – pergunte aos gregos sobre a importância dos Mármores de Elgin ou a um dinamarquês sobre os Chifres de Ouro. Usualmente, os artefatos culturais que mudaram de mãos ao longo da história se tornam objeto de disputa nacional, ícones de falta de afeição entre as nações envolvidas.

Os proponentes de uma ideologia nacionalista usualmente lançam mão da idéia de que sua nação é imutável e “original” – que as doutrinas e atributos de sua nação são fixos, e foram parte da característica nacional desde antes da invenção da escrita. Por exemplo, os nacionalistas alemães recordam a vitória sobre as legiões romanas nas Florestas de Teutoburgo, pelo líder tribal germânico Arminius (“Hermann”).

Não obstante, há claras evidências que nenhuma nação são entidades imutáveis. Paradoxalmente, se existe uma constância na sociedade humana, é sua transformação, e isso assegura que uma nação de hoje seja completamente diferente da nação de mesmo nome que existiu há uma geração. As nações estão evoluindo e modificando-se, tudo ao mesmo tempo.

Em resumo, alguns dos atributos da existência nacional [nationhood]:

  • Uma postulação comum de interrelacionamento – um laço “sangüíneo” entre os membros. Este relacionamento pode ser real, mas mais comumente, deriva de um mito;

  • Uma herança cultural comum. Esta herança, e particularmente os artefatos culturais (e também, por vezes, estruturas institucionais) que esta herança gerou, representam o “patrimônio” da nação, que é usualmente dotado de um considerável valor sentimental, à extenção de que ataques ao mesmo são respondidos com uma violência emocional;

  • Coerência lingüística, na forma de uma ou mais línguas identificadas com a identidade nacional. Quão mais únicas e difíceis forem estas línguais, mais forte será o vínculo emocional a elas, como algo que deve ser defendido. Em um mundo de telecomunicações de massa e de onipresença do inglês como língua franca, esforços estão sendo levados a cabo em todos mundo para proteger as línguas nacionais (mais claramente, na Islândia e na França);

  • Um sentimento de identidade, pelos membros, com a nação. A idéia de pertencimento nacional está claramente fundado na psiqué humana, e os membros de uma nação respondem de forma visceral a qualquer ameaça a mesma, seja esta real ou uma simples percepção.

Observando a lista acima, um leitor astuto verá que de forma alguma, ela é exaustiva – como não contém todos os atributos requeridos à existência nacional. Particularmente, um elemento ausente está inexoravelmente ligado à ideologia nacionalista: o território.

O território – sustento – não é uma algo conexo à nacionalidade, embora nos últimos século e, particularmente, desde a década de 1860, ele tenha se tornado encrustrado à base ideológica de muitas causas nacionalistas. A idéia de “terra natal”, este domínio quase mítico que é herança inalienável da nação é um conceito tão antigo quanto o Velho Testamento. Somente depois de Bismarck, entretanto, as aspirações territoriais de uma nação se tornaram tão importantes quanto são hoje.

Isso nos leva ao mais problemático de todos os conceitos: o de Estado-Nação. Os movimentos nacionalistas do Século XIX e posteriores criaram (ou, ao menos, evoluíram) este conceito, ligando a nação à terra. Esta percepção de inseparabilidade entre “Blut und Boden” (Sangue e Solo) causou várias guerras, nas quais duas nações reclamavam o mesmo território – e ambas reservavam seus “direitos” à terra com uma devoção quase divina.

O Estado-Nação, portanto, encorpa a idéia nacionalista de que deveria existir uma completa correspondência entre as nações e os Estados que as governam. Os tchecos deveriam ter uma terra tcheca, com um estado tcheco soberano a governando, -ai.

Este seria um princípio importante, se não fosse contrário aos fatos – o fatos sendo que existem pelo menos 8000 nacionalidades (factuais ou potenciais) na face da Terra, e que suas terras-natais reivindicadas frequentemente se sobrepõem. De modo similar, o ideal nacionalista de um mundo de Estados-Nação é impraticável, e potencialmente uma base para crueldade, perseguição, genocídio e limpesa étnica.

Ademais, o ideal nacionalista do Estado como a encarnação de uma única nação é irrelevante para exemplificar a natureza do Estado, que tentarei demonstrar no próximo capítulo.


O Socioculturalista #13, 5 de abril de 2008.
CONCEPÇÕES DE NACIONALISMO – Carlos Góes

Pierre Renouvin e Jean-Baptiste Duroselle, em sua mais importante obra conjunta – Introduction à l’histoire des Relations Internationales -, afirmam existir duas grandes abordagens analíticas do nacionalismo. Abordagens, ressalte-se, divergentes.

A primeira seria a concepção naturalista do nacionalismo. Segundo esta concepção a nação seria um ser vivo, um ente natural, independente das relações sociais existentes entre os membros da mesma. A nação estaria evidente na língua, na raça, no território, na fidelidade, nos costumes, nas antigas tradições. A nação seria a “ação inconsciente de uma força superior”. A qualificação de um grupo social como nação não seria relacionado à existência de um sentimento nacional, mas sim aos elementos como os supracitados. “Que tais agrupamentos não tenham consciência de sua solidariedade, que não manifestem o desejo de viver em comum, pouco importa: os sinais exteriores constituem critério indiscutível”.

Seriam exemplos o fato de germânicos terem se agrupado em um nacionalismo alemão (ou germânico); antigos gauleses terem se tornado os contemporâneos franceses; e os habitantes da península itálica terem, desde o Século XVI, fomentado um sentimento nacional italiano que culminaria na unificação de 1870. Não explicaria, todavia, o porquê de a hispano-américa ter se conformado em um sem-número de nações; e, por exemplo, o fato de os suíços falantes do alemão – muito similares culturalmente, linguisticamente e em termos étnicos, dos alemães – não conformarem a “nação germânica”, supostamente existente em termos naturais.

Já a concepção sociológica do nacionalismo compreende que a nação é um “fato de consciência”. A nação existe pelo fato de – agora utilizando o léxico de B. Anderson [1] – seus membros identificarem um ao outro como ligados a uma mesma entidade imaginada socialmente: a nação. “A pátria é antes de tudo a consciência da pátria”. É marcante, nesse sentido, um famoso discurso de Ernest Renan, onde o mesmo relata que:

Uma nação é portanto uma grande solidariedade, constituída pelo sentimento advindo dos sacrifício que nós fazemos e estamos dispostos a fazer no futuro. Ela pressupõe um passado resultante em um fato tangível: o consentimento, o claro e expresso desejo de continuar a conviver em sociedade. A existência da nação é, em si mesma, um plebiscito diário, assim como a própria existência do indivíduo é uma perpétua afirmação da vida [2].

De tal modo, mesmo reconhecendo a importância dos fatores tidos como fontes naturais da nação para a emergência de um sentimento nacional, eles por si só não seriam suficientes. Sem a expressão de uma identidade comum, de um sentimento de solidariedade, não pode haver nação. Isto, pois a nação seria constituída exatamente por esta identificação coletiva sendo, assim, uma comunidade imaginada.

Ao passo que a concepção naturalista entende que a nação é um fato dado, empírico, a concepção sociológica trata da questão das identidades, sendo a nação é construída sociologicamente, por meio das interações sociais. Na primeira abordagem, a existência de uma micronação seria impossível, uma vez que micronações não são natural: não se baseiam ou resumem à língua ou à etnia. Todavia, concebendo a nação como ente construído com base nas interações sociais, pode-se observar que um micronação pode ter, apesar da escala reduzida, as mesmas características de uma nação de proporções maiores.

Nesse sentido, fica exposta exatamente qual deveria ser a abordagem micronacional à questão da construção de um micro-nacionalismo: deve-se focar nos laços imaginados de identidade que emergem das interações sociais. Micronações possuem um locus social. As relações existentes, ainda que utilizando-se da Internet como meio de comunicação, são reais, nunca virtuais.

[*] citações, salvo expresso em contrário: RENOUVIN, Pierre; DUROSELLE, Jean-Baptiste. Introduction à l’histoire des Relations Internationales. Paris: Librairie Armand Colin, 1967. pp. 180 – 267.
[1] V. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a origem e a expansão do Nacionalismo.


O Socioculturalista #8, 25 de maio de 2007.

AS DUAS REVOLUÇÕES – Carlos Góes.

O micronacionalismo contemporâneo necessita de duas revoluções: uma teleológica e outra tecnológica.
A primeira, passa pela construção de um verdadeiro nacionalismo popular – ex partis populis – que, por meio da lenta lapidação de uma cultura comum –  com doutrinas, normas de procedimento, artefatos, símbolos, métodos e costumes -, gere os laços imaginários de identidade nacional que faltam para dar razão ao fragmento -nacionalismo do [micro-]nacionalismo. Este é processo extremamente complexo, pois a construção de vínculos nacionais interpessoais leva algum tempo e, ademais, o aspecto voluntarista do nacionalismo em miniatura contribui para tornar estes laços mais fracos.
Quais são os modos de fazer isto? Governos não produzem cultura. Podem, ao máximo promover uma homogeneização cultural (v. GUIBERNAU, MONSERRAT, Nacionalismos.). É exemplo disso a escolha do Império Austro-Húngaro pela germanização em detrimento do seu multiculturalismo germânico-magiar.
Esta homogeneização é exemplo de nacionalismo oficial, e não popular. O “benchmark” que temos de nacionalismo oficial em escala reduzida é Reunião. Nela, Cláudio de Castro, utilizando-se das tradições de 10 anos de micronacionalismo define o que é o “way of life” reunião e o que está fora dele. Esta lógica foi aplicada por diversos governos na história, em especial nos absolutos/ditatoriais (vide Sião e Estados da Indochina), mas também nos democráticos (vide o massacre dos nativos da América do Norte pelos Estados Unidos) – desde que, nestes últimos, haja significativa distância entre o grupo dominante e a massa popular. 

O nacionalismo popular, entretanto, é de muito mais difícil realização – em especial no modo em que se dá o micronacionalismo atual. Para que este aconteça é necessário que a própria sociedade alimente o espírito de pertencimento e identidade nacionais, para que o vínculo de nacionalidade seja muito mais que uma escolha ordinária entre camisetas amarelas ou vermelhas, se tornando algo profundo – cujo rompimento não seja simples. Das relações sociais entre os indivíduos emergirá a idéia de nação e, naturalmente, a força do vínculo nacional será diretamente proporcional ao direcionamento das relações sociais ao reforço do sentimento nacional.

Afora isso, para que os micronacionalistas consigam compreender melhor as relações sociais, são necessárias novas ferramentas de comunicação. Muito embora a comunicação escrita tradicional do micronacionalismo transmita relações sociais, é fato que estas não se limitam a isso. As cores, imagens, cheiros, sons, movimentos e emoções formam aspectos intangíveis das relações sociais. Em outra palavras, é muito mais fácil perceber alguém você conversa por vídeo-conferência como um indivíduo real que tem relações sociais com você do que um remetente de e-mails que você não conhece.
Esta é a segunda revolução necessária: a tecnológica. Ela vive em função da primeira, tendo como objetivo reforçar a interpretação teleológica do projeto micronacional como sendo um projeto real de nação. As novas tecnologias ora disponíveis para utilização online têm como um ponto: a interatividade. E é na interação que reside o ponto nevrálgico das relações sociais. Sem aquela estas não podem existir.
Redes de relacionamento, wikis, vídeos, podcasts/blogs, fotos, áudio e vídeo-conferências. O desafio é conseguir agrupar todos estes elementos em um único recinto e trazer racionalidade em seus usos para o micronacionalismo. Tendo estes elementos como foco, deslocaremos o eixo da interação micronacional da emulação às relações político-sociais.
No lugar de palácios imaginários, fotos de nosso dia-a-dia pessoal. Ao invés de dizer “o que Hitler fez não importa no micronacionalismo”, o aproveitamento de toda a nossa carga intelectual e emocional em nossa prática micronacional. Podem pensar: ora, mas as pessoas terão “medo” de fazê-lo, de se expor. Ora, mas as mesmas já não o fazem hoje? Orkut, Flickr, Blogger, Skype, YouTube estão aí para nos provar isso. A tal “web 2.0”. Se as micronações passarem a se apresentar desta forma desde sua gênee, os novatos não terão problema em se adaptar – pois não estarão submersos nos velhos dogmas que habitam a Lusofonia.

O Socioculturalista #7, 18 de maio de 2008.
O Quinto Mundo e o Novo Micronacionalismo – Carlos Góes.

Talvez uma dos grandes problemas da Lusofonia seja o fato dela ser praticamente um vaso hermeticamente fechado. Salvo em algumas inflexões nesta tendência – como os remotos avanços ruma à extra-lusofonia de Porto Claro, Reunião e, mais recentemente, na gênese de Pasárgada -, as micronações de língua portuguesa acabam por relacionarem-se basicamente entre si. Quais foram os reflexos disto?   

Por uma parte, foi positivo o fato de ser criado um certo padrões de regras, normas, modos de procedimento que caracterizaram a Lusofonia como sociedade intermicronacional (ver GÓES & GARCIA, Relações Intermicronacionais: Conceitos. Maurício: FTS, 2006). Isso significa que as micronações que se aglutinam em volta do português não só passaram a agir como parte de um todo, mas a criar padrões de procedimento que denotam uma certa “unidade cultural”. Por outro lado, a inexistência de um contato mais profundo com modos de ver o micronacionalismo acabou por estagnar a corrente dominante. É fato que a existência de uma dialética que opõe teses ajuda o surgimento de uma conceituação mais refinada [tese x antítese = síntese = nova tese; nova tese x nova antítese = nova síntese].

Seria importante o contato com alguns modelos distintos de se ver a prática nacional em escala reduzida. Aquele que me chama muito a atenção é um que pouco foi explorado pelos micropatriólogos de lingua portuguesa: o Quinto Mundo. Um dos que se aventurou neste caminho foi Bruno Cava, que já citava, há alguns anos sobre o mesmo (ver CAVA, Micronacionalismo Lato Sensu. Maurício: FTS, 2006).

Do que consiste o Quinto Mundo. Em sua auto-definição, encontrada no “Portal do Quinto Mundo” (http://5world.net/), o Quinto Mundo consiste de “pequenas nações e minorias ao redor do mundo que não têm representação nas organizações internacionais como as Nações Unidas (ONU) ou a Organização das Nações e Povos Não-Representados (UNPO)”. Deste modo, o Quinto Mundo não vê suas nações associadas como distintas daquelas que têm reconhecimento pelas Nações Unidas, ou mesmo pela UNPO. Ao contrário, simplesmente entendem que a dinâmica de poder vigente no cenário internacional, dominado pelos chamados “Estados Nacionais”, não lhes garante reconhecimento.

Ademais, de acordo com um conceito jurídico gerado pelo Quinto Mundo, o Jus celebri electroni, o exercício nacional que se utiliza da web não está sobre jurisdição de qualquer Estado Nacional. Isto, pois “de acordo com o Artigo 1º da Convenção de Montevideo, um Estado só o é se tiver um território. Estados não territoriais ou virtuaisnão são verdadeiros Estados de acordo com esta Convenção. Já que os Estados não-territoriais não são Estados verdadeiros de acordo com o Direito Internacional […] computadores, servidores e redes de informática como a Internet não são jurisdição legal do Estado Nacional, inclusive seu poder de regulação e taxação” (ver http://jce.5world.net/).

Nesse sentido, vemos o exercício nacional como algo descolado do Estado Nacional em que seus membros se encontram. Isso se torna claro mesmo se analisarmos as nações que coincidem com Estados membros das Nações Unidas. Se existem portugueses que vivem no Brasil, no Reino Unido, na Bélgica e no Japão, não são eles, ainda assim, membros da nação portuguesa?

A mesma analogia pode ser feita com as micronações. Não importa estarem cidadãos pasárgados em Portugal, Estados Unidos e Brasil. A distância entre os membros da nação não importa para o exercício da nacionalidade, pois o conceito de nação, diferentemente do de Estado, não está ligado a um território.

Do mesmo modo, pouco importa se temos também a nacionalidade brasileira, peruana ou suíça. Nacionalidade é um conceito jurídico. À época do Império Austro-Húngaro, austríacos e magiares tinham o mesmo status jurídico, o mesmo passaporte e os mesmo direitos. Ainda assim, faziam parte de nações diferentes. Afora isso, o senso de pertencimento a várias nações pode ser verdadeiro. Não necessariamente um filho de italiano nascido no Brasil deixa de se sentir como parte da nação italiana. É por isso que podemos ser brasileiros e porto-clarenses, peruanos e pasárgados, portugueses e reuniãos.


O Socioculturalista #6, 10 de maio de 2007. 

MICRONACIONALISMO NO SÉCULO XXI – Carlos Góes.

Qual é o motivo do esvaziamento do micronacionalismo?! As respostas para a pergunta supracitada podem ser variadas. Proponho uma que é ampla o bastante para abranger uma série de fatores e suficientemente polêmica para provocar reflexão: o fato é que praticamos o micronacionalismo do mesmo modo que o fazíamos há dez anos. A despeito da mudança no calendário, ainda fazemos o micronacionalismo do século passado.

De qual modo ficamos parados no tempo?

Primariamente, no sentido da compreensão do que é de fato o [micro-]nacionalismo. A idéia fixada por Reunião e Porto Claro, dos famosos “país-modelismo” de Aguiar ou “hobby” de Cláudio de Castro, continua a ser predominante na Lusofonia. Ainda é predominante o micronacionalismo como emulação – misto de hobby e diversão. E, nesse sentido, o micronacionalismo está em grande desvantagem contra as novas oportunidades de emulação que existem na rede.

Em 1997 o que havia de diversão interativa na Internet eram as salas de chat e o IRC. Nesse sentido o micronacionalismo tido como emulação era um competidor respeitável às mesmas. Hoje, entretanto, o micronacionalismo, se visto como emulação, tem de competir com o Second Life, World of Warcraft e similares. Quem está a procura de diversão, tende a ficar com estes últimos.

De tal feita, precisamos de uma revisão no conceito dado ao micronacionalismo. Isto, pois, para os que não conhecem o micronacionalismo, o formato no qual o mesmo é apresentado dá a impressão de algo como uma “brincadeira séria”, ou – “RPG de diplomacia”, como disse um amigo meu ao ser apresentado ao sítio de Pasárgada.

Ainda se tem receio de ver que a [micro-]nação somente diferem das outras em relação a sua escala. Aquele que estuda um pouco de teoria do nacionalismo, chega naturalmente à conclusão de que os variados conceitos de nação coincidem em uma coisa: se relaciona aos laços de identidade entre indivíduos, que se sentem ligados – ainda que não se conheçam – por meio de uma entidade imaginada denominada “nação”. São estes laços imaginados que fazem com que um catarinense e um potiguar sintam-se identificados com os mesmos símbolos nacionais: a bandeira, o hino, a história, o futuro. São os mesmos laços que fazem com que dois peruanos, ao se encontrarem na Europa, sintam-se “em casa”, ainda que longe de sua terra natal.

Nação não é um conceito que se relaciona, necessariamente, a determinado território. Os judeus na diáspora continuaram a manter características nacionais, entre eles a idéia de um passado e destino comuns. Do mesmo modo, um português no Brasil ainda faz parte de sua nação, ainda que no estrangeiro. Nação é um conceito imaginado.

Outrossim, falta às micronações assumirem, de fato, sua nacionalidade – não o conceito jurídico, mas o senso de pertencimento à nação. Ao se cultivarem os laços de nacionalidade, naturalmente, o senso de pertencimento do novato muda do eixo emulacionista para o realista/nacionalista. Naturalmente, os que buscam por emulação tendem a se desanimar. Por outra parte, aquele que busca por novas experiências, por uma evolução pessoal, por uma experiência nacional que seja diferente àquela das estruturas dos Estados-Nação tradicionais, poderá ser atraído. Alguns da extra-lusofonia já compreenderam isto, de certa maneira. O caso mais notável é o do Quinto Mundo (ver http://5world.net/ e http://groups.msn.com/FifthWorld). Falta-nos este passo.

Não obstante, é fato que os velhos e-mails não ajudam a construir a identidade nacional. Aí que entra o segundo ponto do novo micronacionalismo: precisamos aproveitar mais das novas tecnologias.

Se Pasárgada contribuiu paradigmaticamente para demonstrar que o micronacionalismo é feito de pessoas reais e que, por conseguinte, as relações sociais que aqui se dão também são reais, temos de ir além. É muito mais simples compreender esta realidade por meio de conferências de voz ou video-conferências do que por e-mail. E isto ainda acabaria com um velho problema do micronacionalismo: o paplismo.

E é interessante ver que a raíz deste pensamento já se encontrava, incrivelmente, no pensamento de Pedro Aguiar. Isto se fazia claro quando Aguiar dizia PC não estava “na Internet”, mas se utilizava da Internet. Do mesmo modo, precisamos nos utilizar de novos métodos, mas com um objetivo claro: não o de emular, mas o de reforçar a idéia de nação.

A mudança tecnológica não é uma mudança que vai somente transferir o problema da integração das listas de e-mail às novas tecnologias. Ao contrário, elas contribuem para melhorar os métodos de construção de um senso de pertencimento nacional. É por isso que sua adoção e essencial, desde que estejam orientados para o objetivo primaz de contrução da nação.


O Socioculturalista #4, 24 de abril de 2007.

L’ANCIEN RÉGIME ET LA REVOLUTION – Carlos Góes

Toutes les révolutions civiles et politiques ont eu une patrie et s’y sont renfermées. La révolution française n’a pas eu de territoire propre; bien plus, son effet a été d’effacer en quelque sorte de la carte toutes les anciennes frontières. On l’a vue rapprocher ou diviser les hommes en dépit des lois, des traditions, des caractères, de la langue, rendant parfois ennemis des compatriotes, et frères des étrangers; ou plutôt elle a formé, au-dessus de toutes les nationalités particulières, UNE PATRIE INTELLECTUELLE COMMUNE DONT LES HOMMES DE TOUTE LES NATIONS ONT PUT DEVENIR CITOYENS. (ALEXIS DE TOCQUEVILLE, L’Ancien Régime et la Révolution. Paris: Les Éditions Gallimard, 1952. p. 40)

As ideologias são forças sentimentais que equivalem-se às identidades nacionais. São também laços imaginados de identidade, mas que não se dão em termos nacionais (ancestralidade/destino comuns; símbolos; cultura; dotrinas, etc.), mas sim em termos de opinião política. Como diz Tocqueville no destaque aqui em cima, as ideologias são “uma pátria intelectual comum, da qual homens de todas as nações podem ser cidadãos”. Se, por vezes, uma nação/Estado pode escolher uma ideologia oficial para si, a ideologia em si não respeita fronteiras. Embora só existisse uma União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, os defensores do modelo soviético estavam espalhados por todo o mundo.

Ao contrário de algumas doutrinas, como o Réunian Way of Life, que reivindica Reunião como nação predestinada a ser a maior do mundo, o Socioculturalismo não tem preconceitos “de fronteira”. Assim como os ideais iluministas de que Tocqueville falava, o Socioculturalismo não coloca à frente nenhuma nação predestinada a ser melhor que as outras. Naturalmente, vão existir os projetos em que esta doutrina será implementada. O mesmo começou a ser feito em Maurício, mas foi dilacerado pelos Extraordinários Reacionários (ver O SOCIOCULTURALISTA 3), por meio de perseguição política e apego ao velho regime.

Deste modo, apesar de nós, doutrinadores, ao passo de sermos também micronacionalistas, tentarmos implementar um projeto de nação em miniatura inspirado pelo socioculturalismo, nada impede da influência de outras nações neste sentido. Naturalmente, este seria nosso deleite intelectual. É por isso que não nos negamos a explicar minusciosamente o que é o socioculturalismo e quais são suas base ideologicas. É por isso que dizemos repetidamente que repudiamos, além de um verdadeiro projeto de nação em miniatura, um projeto micronacional deve ter um ambiente que proporcione aos seus membros a possibilidade de contribuir à sociedade e à autoevolução.

Isso não significa, entretanto, que o Socioculturalismo tenha a megalomania de ser a corrente dominante em todas as micronações. Ao contrário de na Revolução Francesa, o velho regime (l’Ancien Régime) pode subsistir juntamente ao novo. O velho modelo, tão bem representado por Reunião e seu semi-virtualismo, seus acordões de trocas de favores, sua a-meritocracia, sua a-democracia e seu polemicismo pode continuar a existir: há quem goste. É bom que exista o velho modelo, até para base de compração do novo.

O novo regime, entretanto, pode produzir uma revolução por esquecer o micronacionalismo e buscar o [micro-]nacionalismo. Assim como Voltaire não participaria, mas inspiraria a Revolução, os Pioneiros Pasárgados nos inspiraram! Espero que a Revolução seja vindoura – e que modifique todas as bases do “micronacionalismo”, tornando real o verdadeiro nacionalismo em miniatura.

Em Reunião, a Revolução foi impedida pelos reacionários, dispostos a tudo para esmagar posições políticas diferentes das suas próprias. A Revolução virá, ainda que mude de endereço.


Editorial

Início do revisionismo histórico.
Conforme anunciado na última edição, tem início no presente panfleto uma recapitulação histórica sobre a emergência do socioculturalismo e a falência do polemicismo reunião. O SOCIOCULTURALISTA crê ser essencial o resgate dos fatos passados no micronacionalismo lusófono, pois a consciência de um passado comum também reforça os laços imaginados de identidade [micro-]nacional.
De modo algum O SOCIOCULTURALISTA reclama para si o monopólio da verdade. Ao contrário, como explícito desde o primeiro panfleto, este periódico não esconde por detrás de uma suposta “imparcialidade jornalística” e também por isso não chama a si mesmo de jornal. Dispomos aqui uma visão dos fatos, que pode ser contraposta a outras versões.
Uma sociedade aberta, nos termos prescritos por Karl Popper, precisa de multiplicidade. De tal sorte, O SOCIOCULTURALISTA entende estar, por meio desta iniciativa, contribuindo com a construção de sociedades [micro-]nacionais abertas. Ao leitor cabe ver as versões disponíveis e chegar, ele mesmo, a uma conclusão satisfatória.
Este primeiro capítulo foca-se na contextualização da época, traçando a divisão moral-filosófica presente na sociedade reuniã de então e o início da emergência de Maurício. O Vice Reino se tornaria o refúgio de alguns, cansados do modo como Gerson França comandava as coisas desde Saint-Denis.
Leia. Critique. Elogie. Conteste. Aproveite.

Pensamento Socioculturalista

1. A contextualização da mudança.
As construções intelectuais não se dissociam dos fatos sociais. Existe, ao contrário, um ciclo que se retroalimenta entre os dois universos. Elementos da realidade alimentam os arquétipos teóricos e estes, por sua vez, almejam modificar a realidade. 

Dois processos ajudaram a alimentar a busca por uma alternativa ao modelismo polemicista de Reunião, que culminaria no delineamento do que hoje denominamos de socioculturalismo. Primeiramente, se delineou uma clara divisão em Reunião entre aqueles que apoiavam táticas escusas de micronacionalismo – pois julgavam ser a prática micronacional distinta da vida – e os que buscavam algo novo. Afora isso, foram marcantes as mudanças ocorridas no Vice-Reino de Maurício a partir da assunção de Rodrigo Mariano ao cetro.

Este primeiro capítulo da recapitulação histórica foca-se na divisão principiológica de dois grandes grupos em Reunião e o início da emergência mauritana. Ainda que se tenha consciência de ser uma visão singular a do relato escrito por um partícipe, como é o presente, tentar-se-á alcançar uma escrita que dê ao leitor oportunidade de interpretação pessoal.

a. Os dois micronacionalismos de Reunião

Ao fim de 2006, haveria uma clara divisão entre abordagens ao micronacionalismo que diversos reuniãos davam à prática. Uma série de fatos seria fundamental para expor os intestinos de tal divisão: as ações de uma organização microterrorista denominada “Honra Imperial”.

A “Honra Imperial”, hoje extinta, consistia em um grupo de indivíduos que, utilizando dos estandartes imperiais de Reunião – embora sem respaldo oficial – perpetrava ataques eletrônicos, como mail bombing, tentativa de roubo de listas e similares. Os dois casos mais famosos foram os ataques a Jorge Quinta-Nova, então premier do Reino Unido de Portugal e Algarves, e, posteriormente, à lista da República de Porto Claro.

Quando da época dos primeiros ataques, no ínicio de 2006, apesar da rejeição quase unívoca aos mesmos, havia divergências quanto ao modo de se abordar a referida organização. Bruno Cava, por exemplo, entendia que uma resposta oficial somente alimentaria o ânimo dos perpetradores. Filipe Oliveira, por outra parte, exigia o repúdio imediato aos ataques. Não obstante, as diferenças eram pouco substanciais então.

Algo distinto do que ocorreria no fim do ano, quando Carlos Fraga, diretor do Serviço Secreto Imperial (Quaex), tomaria a decisão de incorporar os integrantes da Honra Imperial ao corpo oficial. Naquele momento, delinear-se-ia uma divisão sensível.

De um lado, Carlos Fraga, Flávio Wernik, Gerson França, Flávio Miranda e Brunno Barbosa eram os principais defensores a incorporação. A justificação moral baseava-se no descolamento do micronacionalismo da realidade. Flávio Miranda chegou a afirmar que “no micronacionalismo não interessa o que Hitler fez ou não”, ao pregar a total separação entre o micronacionalismo e a realidade.

Houve uma eloquente resposta de todos os campos da sociedade, que julgavam ser inaceitável a incorporação de um grupo terrorista ao aparelho de Estado. Rodrigo Rocha, então Chanceler Imperial, emitiu nota de discordância em relação a posição da Quaex. O mesmo faria Valadir Aerwyld, presidente da Assembléia Popular de Qualícatos. Eduardo Lagrenge e Carlos Góes proporiam, respectivamente no Egrégio Conselho Imperial de Estado e na Assembléia Popular de Qualícatos, moções de repúdio à incorporação que seriam aprovadas. Filipe Sales e Rodrigo Mariano comandariam um repúdio do Vice-Reino de Maurício à Honra Imperial.

Muito embora fosse maior o grupo que rejeitava o micronacionalismo do terror, aqueles que o apoiavam orbitavam em volta do Gabinete do Lorde Protetor, o que, naturalmente, lhes garantia muito poder. O próprio Gerson França era o Lorde Protetor e agia de todos os modos possíveis para defender seu grupo. Ademais, o Imperador Cláudio de Castro não tinha presença constante no Sacro Império, fato que reforçava, ainda mais, o poder de Gerson França.

Eventualmente, Carlos Fraga reconheceria que cometeu um erro ao patrocinar a incorporação da Honra Imperial à Quaex. Entretanto, a divergência entre o polemicismo modelista tradicional, que aceita qualquer tipo de conduta por uma atividade mensagística, e os que focam-se na identidade entre realidade social e micronacionalismo já estava escrita.

b. O renascimento de Maurício

No mesmo ano de 2006, seria pavimentado o lócus para o surgimento do socioculturalismo. Rodrigo Mariano assumia o Cetro Real Mauritano inaugurando uma era de atividade produtiva em Maurício. Criara uma Academia de Heráldica, uma Biblioteca Real e instituira o sistema feudal no Vice-Reino, entre outras iniciativas.

Somando-se o ambiente positivo no nível vicerreal à dominância do grupo polemicista na política imperial, houve grandes incentivos a uma investida ainda maior na atividade regional, de modo a produzir um ambiente maduro e que promovesse a evolução pessoal. Nesse sentido, ocorreu um resgate da cultura local, de origem anglófona, incorporando-se a esta elementos do realismo pasárgado.

Entretanto, é importante ressaltar que a prática micronacional mauritana de então ainda se caracterizava como um modelismo tipicamente reunião, ainda que salpicado com elementos realistas. Entre os principais micronacionalistas que tinham em Maurício seu foco principal de atividade estavam: Rodrigo Mariano, Eduardo Lagrenge, Carlos Góes, Bruno Sogdu e Filipe Sales.

Este cenário pavimentaria a estrada para a emergência do nacionalismo mauritano, justificado em termos teóricos e práticos. Ademais, pouco tempo depois iniciar-se-ia a Inquisição contra os mauritanos, motivada essencialmente por um desgosto do grupo polemicista contra a elevada atividade regional mauritana. 

Expediente

Editor – Carlos Góes

Redação – Carlos Góes, Filipe Sales, Rodrigo Mariano e Fernando Henrique Cardozo.